Procedimento: Google Sculpting
Texto Original: A criança passeia pelo campo. Pára diante de um portão entreaberto. É o portão de uma grande quinta. A criança entra. Lá dentro está um cão enorme.
A criança passeia pelo campo. Sente o cheiro das flores. Encontra um leopardo. Absoluto. Passeia pelo campo e não tem vergonha. Mas sente raiva ao recordar as palavras de Anabela. Encontra um leopardo e assusta-se. Passeia pelo campo seco-torrão da sua morada. Passeia pelo campo num canto de valentia. Vai à vila, frequenta o café, conversa com o médico e o pároco e procura Margarida. Passeia pelo campo com o seu mini-tractor. Num movimento perpétuo. Seduz. Agora passeia pelo campo e sente-se perfeitamente à vontade sobre a égua. As pessoas ouvem-na a vir ao longe e voltam-se à sua passagem. Durante o percurso, vai encontrando surpresas. Partilha imagens com os seus seguidores. Passeia pelo campo e prazerosamente descansa a vista. Faz o movimento de estrela e todos se alegram com o seu movimento. Encontra um leopardo e assusta-se com a sua reacção.
Pára diante de um portão entreaberto. É a sua chance, tudo ou nada. Aperta o passo e chega a outro portão entreaberto. Procura outra rua, mais um portão entreaberto, uma exacta incidência de luz, uma placa de trânsito fora de prumo projectando uma sombra. Um rapaz vigia um café construído ao lado e impede que o senador e a sua comitiva entrem por um portão entreaberto. Subornam a segurança, atiram perguntas aos carros que passam e até tentam ultrapassar um portão entreaberto de madeira dupla que separa a praça exterior da do interior do estabelecimento. Trata-se de uma divindade local. Agora, o ponto de referência da criança é outro portão entreaberto ladeado por muros. Note-se que ela não passará por ele. O seu novo objetivo é contornar o muro. Pára. Olha em redor.
É o portão de uma grande quinta. A palavra vila, entre os Romanos, designava o que chamaríamos hoje uma quinta, mas uma grande quinta, com amplas instalações. Do lado de fora da nova casa, a criança vê uma grande quinta gradeada onde todos os camponeses usam pijamas às riscas. É uma grande quinta com muito terreno em seu redor (latifúndio), onde se exploram todos os recursos que a terra permite. Mesmo ao lado, outra grande quinta e a respectiva mansão, propriedade de uma família inglesa desde o séc. XIV, alimenta as suas fantasias. O autarca das Putas também tem uma grande quinta, lá em Gaia. No sul da região da Toscana, em Itália, perto do promontório do Monte Argentário, está à venda uma fantástica propriedade de luxo. Situa-se não muito longe de uma grande quinta, muito mimosa e fértil, que tem quilómetros e quilómetros de circunferência.
A criança entra. É o momento em que a criança entra na fase escolar, em que surgem novas obrigações, ao passo que o crescimento entra em desaceleração. Com as devidas dicas, verá como a criança entra na quietude do yoga, percebendo as sensações das posturas, como: calma, paz ou alegria. A criança entra num cilindro de esponja e o pai fá-la rodar. Logo que a criança entra em contacto com a obra, a primeira leitura que faz é a do título e da ilustração da capa. A partir do título, o leitor pode realizar várias inferências. Em geral, quando a criança entra na escola, os episódios de virose são mais frequentes. Isso aconteceu com o Laurent também? Quando a criança entra na escola, por volta dos 06 a 07 anos de idade, verifica-se uma diminuição da produção gráfica, uma vez que a escrita passa a ser concorrente do desenho. Por volta dos 09 e 10 anos, entra na fase do “eu não sei desenhar”.
Lá dentro está um cão enorme. Está toda excitada, com um cão enorme preso na sua garagem. Olha em volta para ver se há alguém. No dia em que lá cheguei, reparei que no quintal dos vizinhos estava um cão enorme, parecido com aquele que fez o filme Beethoven. Por sua vez, o mastim é um cão maior que o grande cão e representa o terceiro “ai” do Apocalipse. É um cão com um esqueleto sólido. O seu peito e costas são sólidos e o seu pescoço é bastante musculado. Quando sonhamos que um cão enorme está a correr atrás de nós, acordamos a suar, com a frequência cardíaca e respiratória aceleradas. A criança acorda com latidos desesperados perto de casa e, quando abre a janela, depara-se com um cão enorme quase a dilacerar um cãozinho. É um cão enorme, mas, graças a Deus, devidamente vacinado. Conheço de vista quem tenha um Cão de Fila Açoriano num apartamento e, esse sim, é um enorme cão.
Details
Variação de Tisana 1, de Ana Hatherly, 2016
Publication history
Poesia Programa Performance: projetos, processos e práticas em meios digitais, Cibertextualidades, Vol. 3, Publicações Fundação Fernando Pessoa, Porto, Oct. 2021
Texto Original: A criança passeia pelo campo. Pára diante de um portão entreaberto. É o portão de uma grande quinta. A criança entra. Lá dentro está um cão enorme.
A criança passeia pelo campo. Sente o cheiro das flores. Encontra um leopardo. Absoluto. Passeia pelo campo e não tem vergonha. Mas sente raiva ao recordar as palavras de Anabela. Encontra um leopardo e assusta-se. Passeia pelo campo seco-torrão da sua morada. Passeia pelo campo num canto de valentia. Vai à vila, frequenta o café, conversa com o médico e o pároco e procura Margarida. Passeia pelo campo com o seu mini-tractor. Num movimento perpétuo. Seduz. Agora passeia pelo campo e sente-se perfeitamente à vontade sobre a égua. As pessoas ouvem-na a vir ao longe e voltam-se à sua passagem. Durante o percurso, vai encontrando surpresas. Partilha imagens com os seus seguidores. Passeia pelo campo e prazerosamente descansa a vista. Faz o movimento de estrela e todos se alegram com o seu movimento. Encontra um leopardo e assusta-se com a sua reacção.
Pára diante de um portão entreaberto. É a sua chance, tudo ou nada. Aperta o passo e chega a outro portão entreaberto. Procura outra rua, mais um portão entreaberto, uma exacta incidência de luz, uma placa de trânsito fora de prumo projectando uma sombra. Um rapaz vigia um café construído ao lado e impede que o senador e a sua comitiva entrem por um portão entreaberto. Subornam a segurança, atiram perguntas aos carros que passam e até tentam ultrapassar um portão entreaberto de madeira dupla que separa a praça exterior da do interior do estabelecimento. Trata-se de uma divindade local. Agora, o ponto de referência da criança é outro portão entreaberto ladeado por muros. Note-se que ela não passará por ele. O seu novo objetivo é contornar o muro. Pára. Olha em redor.
É o portão de uma grande quinta. A palavra vila, entre os Romanos, designava o que chamaríamos hoje uma quinta, mas uma grande quinta, com amplas instalações. Do lado de fora da nova casa, a criança vê uma grande quinta gradeada onde todos os camponeses usam pijamas às riscas. É uma grande quinta com muito terreno em seu redor (latifúndio), onde se exploram todos os recursos que a terra permite. Mesmo ao lado, outra grande quinta e a respectiva mansão, propriedade de uma família inglesa desde o séc. XIV, alimenta as suas fantasias. O autarca das Putas também tem uma grande quinta, lá em Gaia. No sul da região da Toscana, em Itália, perto do promontório do Monte Argentário, está à venda uma fantástica propriedade de luxo. Situa-se não muito longe de uma grande quinta, muito mimosa e fértil, que tem quilómetros e quilómetros de circunferência.
A criança entra. É o momento em que a criança entra na fase escolar, em que surgem novas obrigações, ao passo que o crescimento entra em desaceleração. Com as devidas dicas, verá como a criança entra na quietude do yoga, percebendo as sensações das posturas, como: calma, paz ou alegria. A criança entra num cilindro de esponja e o pai fá-la rodar. Logo que a criança entra em contacto com a obra, a primeira leitura que faz é a do título e da ilustração da capa. A partir do título, o leitor pode realizar várias inferências. Em geral, quando a criança entra na escola, os episódios de virose são mais frequentes. Isso aconteceu com o Laurent também? Quando a criança entra na escola, por volta dos 06 a 07 anos de idade, verifica-se uma diminuição da produção gráfica, uma vez que a escrita passa a ser concorrente do desenho. Por volta dos 09 e 10 anos, entra na fase do “eu não sei desenhar”.
Lá dentro está um cão enorme. Está toda excitada, com um cão enorme preso na sua garagem. Olha em volta para ver se há alguém. No dia em que lá cheguei, reparei que no quintal dos vizinhos estava um cão enorme, parecido com aquele que fez o filme Beethoven. Por sua vez, o mastim é um cão maior que o grande cão e representa o terceiro “ai” do Apocalipse. É um cão com um esqueleto sólido. O seu peito e costas são sólidos e o seu pescoço é bastante musculado. Quando sonhamos que um cão enorme está a correr atrás de nós, acordamos a suar, com a frequência cardíaca e respiratória aceleradas. A criança acorda com latidos desesperados perto de casa e, quando abre a janela, depara-se com um cão enorme quase a dilacerar um cãozinho. É um cão enorme, mas, graças a Deus, devidamente vacinado. Conheço de vista quem tenha um Cão de Fila Açoriano num apartamento e, esse sim, é um enorme cão.
Details
Variação de Tisana 1, de Ana Hatherly, 2016
Publication history
Poesia Programa Performance: projetos, processos e práticas em meios digitais, Cibertextualidades, Vol. 3, Publicações Fundação Fernando Pessoa, Porto, Oct. 2021